Como uma comunidade tão pequena e vulnerável pode ser pauta em quase todos os discursos conservadores? Por mais que seja impossível justificar, vamos tentar entender!
Muito se fala hoje em dia sobre a “ideologia de gênero”, conceito não reconhecido academicamente criado entre 1990 e 2000 por uma ala conservadora da Igreja Católica. De acordo com a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o termo ideologia de gênero é empregado especialmente por setores conservadores e religiosos para criticar estudos de gênero e as pautas de direitos sexuais associando-os a uma “conspiração” para desestruturar a família e a sociedade.
A ideologia de gênero nega o conceito de gênero como construção social, ou seja, invalida totalmente a existência de pessoas trans, além de negar também os direitos de grupos como mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ e naturalizar ideologias como o machismo e a heterossexualidade compulsória.
Portanto, conclui-se que as pessoas trans são enxergadas como uma ameaça para a família tradicional.
Você sabia que pessoas trans representam apenas 2% (0,33% de mulheres trans, 0,33% de homens trans e 1,33% de pessoas não binárias) da população brasileira de acordo com um levantamento feito pela Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (FMB/Unesp) em 2021?
Dentre esses 2%, apenas 4% possuem carteira de trabalho assinada e apenas 0,02% teve acesso ao ensino superior de acordo com a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).
Por que uma comunidade tão pequena e tão vulnerável incomoda tanto assim algumas pessoas?
A ideia de família e sociedade que os conservadores têm envolve necessariamente um comportamento não questionador, que busca ignorar toda e qualquer identidade individual que não seja hétero e cisnormativa porque o modelo tradicional de família é não só conveniente como lucrativo para eles.
Uma sociedade machista e patriarcal, que não dá espaço para outras identidades coloca os homens, especialmente aqueles com poder político e econômico, no topo. Isso vem acontecendo na nossa sociedade há tempos e vai desde a exploração da mulher como uma propriedade masculina até a indústria que se criou para que elas estivessem sempre em busca de padrões inalcançáveis para agradar exatamente a eles: os homens.
O contraponto de uma pessoa não se adequar aos padrões impostos ao seu sexo biológico, como fazem as pessoas trans, as coloca em um lugar de resistência. Mostra além de tudo uma falha no “cistema” que prova que os padrões ultra rígidos estabelecidos pelo patriarcado são na verdade o que há de mais artificial no mundo.
Cada vez existem mais pessoas questionando essa lógica conservadora, diante disso, o conservadorismo busca atacar sempre o elo mais fraco da resistência com o intuito de desumanizar essas pessoas, mostrar ao mundo que se você seguir por um caminho diferente do conservador você viverá de forma desumana, desestimulando assim que as pessoas assumam suas verdadeiras identidades.
Os discursos sem cabimento algum contra pessoas trans no esporte alegando que elas estariam “roubando” o lugar de pessoas cis, ou de pessoas trans assediando mulheres cis em banheiros, desvia o foco da resistência para um assunto que nem sequer chega a ser um problema real. Não existem registros de pessoas trans assediando mulheres em banheiros e existem pouquíssimos atletas trans no mundo, portanto, o objetivo desse tipo de discurso de ódio é desviar o assunto para uma pauta que é facilmente vulgarizada e tirar o foco do real problema: a necessidade de manutenção de uma sociedade conservadora é benéfica apenas para poucas e privilegiadas pessoas que não querem abrir mão disso, nem que custe a vida de quem estiver contra.
Ou seja, as pessoas trans são a síntese de muito do que ameaça o conservadorismo, coincidentemente ou não, também são uma das parcelas mais vulneráveis da nossa sociedade e por isso são “alvos fáceis” tão atacados.
Conseguimos organizar um pouco as ideias aí pra você? Nos conte de que outras formas você percebe que o conservadorismo tenta desviar o nosso foco dos problemas reais! Vamos adorar conversar sobre isso!